Musealização da zoologia: narrativas evolutivas construídas com animais
Palavras-chave:
Animais, Evolução, Exposições, Musealização, Museus de história naturalResumo
Os museus de história natural são instituições multifacetadas. Constituem-se como espaços privilegiados para discussão da teoria evolutiva, uma vez são instituições de pesquisa científica, repositórios de material comparativo e meios de comunicação, especialmente por meio de suas exposições. Neste trabalho, o animal é entendido como interface entre duas áreas: museologia e zoologia. Discute-se, então a musealização da zoologia, ou seja, os processos que tornam um animal objeto de museu (musealia) e o seu uso em narrativas evolutivas de exposições de museus de história natural. Para tanto, foram analisadas exposições de três museus de história natural latino-americanos: "Las Aves" - Museo de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia; "Tiempo y materia. Laberintos de la evolución" - Museo de La Plata; e "Conchas, corais e borboletas" - Museu Nacional do Rio de Janeiro. A heterogeneidade de acervos e recursos expográficos exigiu o desenvolvimento de uma metodologia objetiva e replicável para descrição das exposições, estruturada em: (i) fichas; (ii) matrizes conceituais; e (iii) planta baixa. A partir do detalhamento das exposições realizou-se a análise comparativa, considerando três aspectos: presença de conceitos evolutivas nas narrativas; (ii) abordagem da teoria evolutiva; e (iii) concepção de museologia. Tais análises demonstraram que "Las Aves" e "Conchas, corais e borboletas" são exposições mais semelhantes, tanto nos conceitos evolutivos presentes na narrativa, como na abordagem sistemática da teoria evolutiva na exposição. "Tiempo y materia" mostrou-se como uma exposição diferenciada, pois sua narrativa foi construída a partir do conceito de evolução e não de grupos zoológicos, acumulando o maior número de conceitos evolutivos presentes na narrativa e uma abordagem voltada aos mecanismos evolutivos. Contudo, quanto à concepção de museologia, nas três exposições há o distanciamento entre o visitante e o conteúdo proposto, sendo que a teoria evolutiva é apresentada como fato corroborado pelo acervo, textos e outros recursos expográficos. Quanto a comunicação da teoria evolutiva e o papel comunicacional dos animais em exposições, observou-se que a construção teórica das narrativas está restrita aos textos e que os animais emprestam suas estruturas para ilustração e demonstração de conceitos evolutivos apresentados textualmente, servindo como "comprovação" da realidade e materialidade da teoria.